Nenhuma outra cena criada nos oito filmes de 'Harry Potter' gerou mais angústia para os produtores do que o epílogo do último filme ("Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2"), um longa metragem que na última semana ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais.
Não havia dragões acorrentados, hipogrifos peludos ou feitiços crepitantes na sequência - ela simplesmente possuía alguns minutos de diálogo calmo entre pais e seus filhos em uma estação de trem - mas a ansiedade disso tudo era tão sufocante que a estrela da franquia, Daniel Radcliffe, em determinado ponto precisou sair de cena.
"Eu acho que eles deveriam fazer isso com atores mais adultos e apenas nos deixar fora da cena", disse Radcliffe, há dois anos atrás, durante um tranquilo momento sentado no chão dos sets de gravação do filme, local onde ele passou metade de sua vida de trabalho e metade de sua vida trabalhando.
"Se isso é o que vai ficar melhor visualmente então devemos fazer. É muito importante que o final seja bem feito."
A dura questão para Radcliffe, David Yates e o restante da equipe "Potter" foi o fato de que o epílogo acontece 19 anos depois do clímax da história na destruída Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Na cena, Harry e seus amigos agora adultos, Hermione e Rony, estão mandando seus próprios filhos para estudar em Hogwarts. O plano foi envelhecer Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint e outras jovens estrelas da franquia da Warner Bros. para que elas pudessem interpretar convincentemente seus personagens mais maduros.
Em 2009, nos sets, Radcliffe, ainda com seus 20 anos, estava desconfiado quanto à estratégia de usar acessórios emborrachados em sua mandíbula e ter falsas entradas de cabelo para assumir 37. "Tenho medo de que isso seja uma distração", disse Radcliffe. "Eu não quero as pessoas olhando para o nosso rosto e se distraindo com aquele momento".
"Se eles rirem", acrescentou, "estaremos mortos". Para Radcliffe, a alternativa era encontrar atores adultos para interpretar os papéis mais velhos.
Seria difícil em qualquer momento em todo filme pipoca para segurar todo o peso do epílogo de "Relíquias da Morte".
Por todos os bilhões de dólares que os filmes e os livros lucraram todo esse tempo, os produtores também tiveram de dar conta de toda a conexão emocional de um espectador de 20 anos que literalmente cresceu com este conto vívido de lealdade, coragem e perda.
O produtor David Heyman estava pensando nisto quando disse a Radcliffe que não tinha como três "estranhos" dizerem as falas finais dos três personagens principais logo depois de a tela escurecer pela última vez.
"Depois de tudo que passamos com esses personagens, a maneira como a geração cresceu com eles, precisam ser eles na tela na hora que chegar no final", disse Heyman, que teve grande responsabilidade na escolha de elenco de Radcliffe e as coestrelas em 2000. "Há uma expectativa - mesmo que não seja enunciada - que eles precisam estar na tela quando chegar ao final."
A cena finalmente foi filmada em maio passado na estação de King's Cross em Londres. Poucas semanas depois, Radcliffe estava feliz em dizer que o desafio foi realmente bem cumprido. O alívio em sua voz era clara mesmo através da ligação de telefone transatlântica de Londres.
"O que não queríamos era que isso fosse uma distração e acho que compreendemos isso", Radcliffe falou. "Fizemos com próteses, no fim das contas, e tenho certeza que vai haver um pouquinho de efeitos visuais para retocar naqueles momentos em que a câmera chega perto... quando se tem próteses por muito tempo, é difícil de manter a ilusão e com a câmera chegando perto é preciso consertar. Também é um desafio fazer alguém de 19 ou 20 anos - uma idade em que seus rostos ainda estão mudando - e fazê-los adultos crescidos totalmente. Acho que, mesmo assim, ficaram fantásticos, e se tivesse que dizer, o meu, em particular. O meu ficou cravado. Isso será eu no futuro, acho.”
Nem todos concordaram.
Algumas imagens do trio com a maquiagem feita vazaram na internet e alguns fãs pensaram que o semblante de Radcliffe foi além do território Velho Potter e ele parecia mais um Harry S Truman aos 48 anos do que um bruxo ainda tímido pela meia idade. Muitos pensaram que Watson não parecia especialmente diferente da Hermione do futuro. Outros não conseguiam parar de encarar o Rony envelhecido de Grint e sua testa consideravelmente maior.
"As imagens ainda me assombram", Grint falou ao MTV mais tarde. "Era um tipo de mistura monstruosa com Donald Trump. Foi assustador".
Esta semana, encontrado na Itália de férias, Heyman gemeu ao ser perguntado sobre aquele dia em King’s Cross.
"Rupert parecia ter uns 75 anos com o queixo triplo e a pança, parecia que tinha vivido como um bêbado", Heyman disse. "Sabíamos que precisávamos trabalhar de novo na maquiagem. Houve outro problema, também, filmar na estação de trem se provou bastante desafiador para algumas das jovens crianças que interpretavam os filhos de Harry, Rony e Hermione. Era muito barulhento e de minuto a minuto um trem de Liverpool chegava em algum dos outros trilhos. Só tínhamos reservado para nós um dos trilhos".
Yates voltou para filmar depois, mas nenhuma edição esperta ou melhorada em CG ia melhorar o bastante. Então, em dezembro, bem depois do filme ter sido encerrado, Yates e os produtores chamaram suas jovens estrelas de volta para os estúdios Leavesden para um segundo esforço de salvação.
Com a aproximação do Ano Novo, o tempo estava correndo. Se a equipe de "Potter" precisava de uma lembrança ominosa do que poderia dar errado, tudo o que eles precisavam fazer era dar uma olhada no grande lançamento de feriado da Disney, "Tron: O Legado", com o rejuvenescimento digital de Jeff Bridges. A equipe de "Potter" decidiu ir com menos tecnologia e mais de uma maquiagem de aproximação clássica, mas Rick Baker, o vencedor sete vezes do Oscar, diz que a aproximação dificilmente fica perfeita.
"Não há nada mais difícil do que o rosto humano, porque passamos muito tempo olhando para ele", disse Baker, que admira a franquia "Potter" de longe. "É possível criar criaturas e alienígenas e todas essas coisas, mas pessoas julgam os rostos humanos de uma maneira diferente. Especialmente se é um rosto humano que eles conhecem porque já é famoso".
"Trabalho de pós-graduação", foi a referência brincalhona do diretor para trazer os ex-alunos de Hogwarts de volta aos estúdios. O epílogo foi refilmado e o diretor Yates, refletindo nisto durante a visita a Los Angeles no mês passado, disse que era "a coisa certa a ser feita, de certo modo", mesmo com o gasto, inconveniência e os murmúrios de negatividade da imprensa.
A equipe de maquiagem para "Relíquias da Morte" foi liderada por Nick Dudman e, para Heyman, a segunda filmagem no trabalho de envelhecimento foi um sucesso.
"Fez toda a diferença do mundo", disse Heyman. "Conseguimos o que procurávamos. Havia um desafio na atuação para os jovens atores. Sei que Emma conversou que sua aproximação foi pensar em seus irmãos caçulas - seu pai casou de novo e ela tem uma nova família - e como estar com eles era o jeito dela de entrar na cabeça de um pai deixando de ir para a escola. Não foi fácil para eles".
Heyman disse que o controle de silêncio nos estúdios de Leavesden deram "o lugar para conseguir a intimidade necessária", mas a hora também criou o benefício inserperado de fazer o epílogo a "verdadeira" última cena filmada pelas jovens estrelas. Cenas de filmes raramente são filmadas na mesma ordem que elas são mostradas na tela, mas nesta ocasião, o sentimento de adeus entregou uma gravidade evocativa ao dia.
"Devíamos ter pensado anteriormente em filmar esta no final", Heyman disse na quarta-feira. "Criou uma realidade de variações para os sentimentos na cena e no ar. E acho agora que ouvimos do resto do mundo que deu certo. No fim, usamos algumas tomadas de King's Cross, também, para fezer uma mistura. Também houve um pouquinho de CG. A combinação é sutil, como precisava ser".
Assim como a saga não só termina com uma explosão, mas com um sussurro de vapor de trem, o epílogo não é grande conquista visualmente dinâmica na história de "Potter", mas foi uma das mais difíceis de conseguir. E para Heyman, olhando os rostos das jovens estrelas e vendo tanta idade artificialmente adicionada, foi uma entrega surreal para uma década de fascinação.
"Foi algo muito estranho e afetuoso", o produtor falou. "Estava muito agradecido porque pensei que havia uma ternura verdadeira na última cena, um sentimento de desfecho e de ciclo da vida. Há um novo começo e há um final. Há diferentes variedades de aventuras para esses atores e para todos nós. Mas todos nós entramos juntos na estação de trem".
